A alimentação quilombola é baseada em alimentos in natura e minimamente processados, alimentos cheios de nutrientes, identidade e ancestralidade. O manejo do cultivo é passado de geração para geração, havendo especificidades em cada comunidade, o que fortalece a cultura alimentar do território. Para saber mais, clique aqui.
Os quilombos representam territórios coletivos de comunhão, de viver em comunidade, compartilhando o acesso à terra e os modos de lidar com ela, o ambiente, as ervas medicinais e as sementes. Durante o período colonial, os quilombos se formaram como estrutura de governo de resistência, que trabalhava em lógica oposta ao estabelecido pelo império, desenvolvendo atividades econômicas, sociais, agrícolas e culturais. Nunca isolados ou apartados da sociedade, como somos levados a pensar, os quilombos estabeleceram variadas relações de trocas com taberneiros, lavradores, garimpeiros, pescadores, camponeses e quitandeiras, ou seja, dialogando com diferentes setores da população. Essas práticas e condutas estão na memória coletiva da população negra como esforço diário pelo direito à vida e à emancipação. Os quilombos, mais do que lugares determinados, são um modo de vida.
Para pesquisar mais informações sobre a história e organização social dos quilombos, apresentamos algumas sugestões de leitura: O quilombo dos palmares de Edson Carneiro; Uma história feita por mãos negras de Beatriz Nascimento; e Mulheres Quilombolas por Selma Dealdina.
Você sabe quantas comunidades quilombolas existem no Brasil e como elas estão distribuídas? O IBGE realizou uma pesquisa sobre isso. Veja alguns resultados na reportagem abaixo:
Considerando a história afro-brasileira e sua influência na construção das práticas alimentares, será que a alimentação escolar quilombola é assunto somente de escolas quilombolas?
Claro que não! A seguir você encontrará informações sobre legislações e políticas que respondem a essa pergunta e ampliam a conversa.
→ Diretrizes Curriculares Nacionais
As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino da História e Cultura Afro-brasileiras e Africanas (DCNERER), instituída pela Lei 10.639/2000, tem como objetivo uma reparação histórica, a partir da garantia da obrigatoriedade do ensino das relações étnico-raciais e da cultura e história afro-brasileira e africana para todos os estudantes matriculados na educação básica, bem como para os alunos de ensino superior dos cursos de educação - formação de professores. Para acessar o documento na íntegra clique aqui.
Mais recentemente, a aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola (DCNEEQ), reforçam a abordagem das DCNERER direcionadas às escolas quilombolas (localizadas em território de quilombo) ou que atendam estudantes oriundos de quilombos. As DCNEEQ tem por objetivo atender as especificidades da educação quilombo, como exemplo a instituição do Plano Nacional de Educação Quilombola.
O que rege a DCNEEQ em termos gerais?
A preservação das manifestações culturais e a sustentabilidade do território;
Garantia de uma alimentação que respeite a cultura alimentar do grupo, a partir de uma infraestrutura adequada e a promoção de materiais pedagógicos pautados na identidade étnico-racial dos grupos;
Prioridade para os trabalhadores oriundos dos territórios de quilombo;
Educação permanente para os trabalhadores da educação;
Instituição do Plano Nacional de Educação Quilombola.
Para acessar o documento na íntegra clique aqui.
→ Políticas públicas
Outra política importante no que diz respeito a alimentação e a educação escolar quilombola é a Política Nacional de Equidade para as Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola. O objetivo dessa política é promover ações e programas de reparação em relação às questões étnico-raciais na comunidade escolar.
Para acessar o documento na íntegra clique aqui.E a alimentação escolar?
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) tem como objetivo a garantia do acesso à alimentação adequada e saudável para todos os estudantes matriculados na educação básica de ensino, bem como a realização da educação alimentar e nutricional com toda comunidade escolar. Desde 2009, após a publicação da Lei 11.947, o programa passou a ter diretrizes para beneficiar as unidades de ensino que estão situadas em territórios quilombolas ou que atendem crianças oriundas de territórios quilombolas, com o aumento do valor per capita repassado e priorizando a compra de alimentos oriundos de agricultores familiares quilombolas. Outro ponto importante de destacar desta legislação é a valorização da cultura alimentar quilombola, com orientações para a formulação de cardápios, bem como de atividades de EAN que promovam e fortaleçam a cultura alimentar africano e afro-brasileira. A presença de representantes quilombolas e indígenas nos Conselhos de Alimentação Escolar, também é uma orientação desta legislação.
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Como a alimentação se organiza em um quilombo? Quem são as mestras e mestres do saber? O que se produz, como e quais são os modos de comer? Como são as cozinhas e os quintais produtivos? Que comidas fazem parte da história, do cotidiano, das festas e/ou dos rituais? Que outros elementos compõem a cultura alimentar?
Na publicação “Tempero de Quilombo na escola: experiências de extensão do projeto CulinAfro - UFRJ Macaé” você vai conhecer um rico relato sobre o Quilombo da Machadinha em Quissamã- RJ. O e-book é dividido em quatro blocos que abordam as seguintes questões: I) As mestras das cozinhas quilombolas e a comida boa para pensar; II) Educação quilombola; III) Alimentação escolar e; IV) Experiências educativas na extensão universitária.
As ações de EAN preconizadas no PNAE, são ferramentas importantes de promoção da equidade, das ações de educação das relações étnico-raciais e da valorização da cultura alimentar quilombola.
Sugestões de materiais, sites e atividades
→ Páginas e sites
GERER - A Gerência de Relações Étnico-Raciais é um órgão da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, cujo objetivo é consolidar a Política Pública de Equidade Racial na Rede de Ensino.
NEAB - “O Núcleo de Estudos e Pesquisas Afro-brasileiros é um espaço de aquilombamento. Tem como proposta realizar estudos, pesquisas, extensão, ações e eventos acadêmicos e culturais, partindo de uma perspectiva histórico-crítica das relações étnico-raciais na sociedade brasileira, valorizando as (os) sujeitas (os) no campo de lutas e resistências negras e indígenas no Brasil”.
CulinAfro - É um projeto de extensão e um grupo de pesquisa criado em 2014, que vem desenvolvendo pesquisa a partir das seguintes linhas: “Culinárias africanas: técnicas de preparo, tecnologias sociais e alimentos; Alimentação e cultura afro-brasileira: da culinária doméstica à alimentação escolar; Alimentação escolar e saúde quilombola; Educação Alimentar e Nutricional (EAN), educação popular e promoção da saúde; Saberes e práticas tradicionais de cuidado em saúde: as mulheres negras e os seus quintais”.
Em breve estará disponível material educativo específico sobre Alimentação Escolar Quilombola produzido de forma coletiva com representantes de comunidades quilombolas de todo o Brasil e apoio do FNDE/MEC.
ACQUILERJ - Associação de Comunidades Remanescentes de Quilombos do Estado do Rio de Janeiro.
Fundação Palmares - Lá você vai encontrar muitas informações sobre a cultura afro-brasileira! Para acessar, clique aqui.
- Censo Demográfico 2022: Localidades quilombolas – Resultados do universo - nesta página você irá encontrar várias informações sobre as comunidades quilombolas. Para acessar, clique aqui.
→ Atividades
1) Realizar contação de histórias de livros infantis com essa temática - clique aqui. Nesse site você encontrará sugestão de 10 livros infantis com protagonistas negros.
2) Convidar mestres e mestras do saber de um quilombo para ser entrevistado pela turma/grupo de estudantes. Organizar um roteiro de perguntas antes do dia com os estudantes.
3) Identificar quilombos existentes no estado do Rio de Janeiro. Na reportagem a seguir você encontra um mapa com a localização dos quilombos. Clique aqui. Muitos quilombos oferecem visitas para conhecer essa história muitas vezes ausente dos livros de história. No município do Rio de Janeiro, podemos citar:
Sacopã - acesse a página do instagram clicando aqui.
Dona Bilina - acesse a página do instagram clicando aqui.
Pedra do sal - acesse a página do instagram clicando aqui. Outra opção para conhecer esse espaço é realizar o circuito da “Pequena África” organizado pelo Instituto Pretos Novos (IPN).
Cafundá Astrogilda - acesse a página do instagram clicando aqui.
Sugestão de roteiro para visita: observe a área geográfica, a origem do nome do quilombo, as práticas comunitárias, os alimentos consumidos e produzidos.
4) Propor pesquisa sobre “PANC ou plantas ancestrais?”. Atualmente, alguns alimentos são considerados como “não convencionais” porque deixaram de ser plantados por grande produtores, mas estão presentes em plantações de pequenos produtores como quintais domésticos, hortas comunitárias e plantações de agricultores familiares, quilombolas, indígenas e comunidades ribeirinhas, variando de região para região. Como exemplo podemos citar: ora-pro-nóbis, almeirão, taioba, peixinho, língua de vaca…
5) Propor pesquisa sobre a presença da alimentação de matriz africana nas práticas alimentares atuais: onde estão presentes? Que alimentos são mais consumidos? Como são preparados? Na página do Instagram do CulinAfro você vai encontrar algumas informações sobre isso.
6) Realizar uma oficina culinária ou um encontro de degustação com base nas receitas disponíveis no livro Memórias e Receitas das Cozinhas dos Quilombos do Maciço da Pedra Branca na Cidade do Rio de Janeiro. Clique aqui para acessar o livro.