Em 2020 a Semana de Educação Alimentar (SEA)
trabalhará com o tema “Escola sustentável: a alimentação escolar e a reduçāo
dos impactos ambientais”.
* por Silvia Farias
Mas, o que é sustentabilidade?
Sustentabilidade é um termo amplo e complexo. Vem
sendo usado por diferentes pessoas e em contextos diversos. Aplicado à
alimentação e à nutrição, refere-se às práticas alimentares promotoras da saúde
que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica
e socialmente sustentáveis. Mas o que seria isso? O aspecto ambiental da
sustentabilidade envolve não prejudicar o ambiente à volta, composto pelo solo,
pela água e pelos seres vivos daquele habitat; o cultural diz respeito à
valorização da cultura local, tanto alimentar como de costumes de uma maneira
geral; o aspecto econômico abarca questões relacionadas à compatibilidade entre
padrões de produção e de consumo, valorização de grupos locais e tradicionais;
e, por fim, o social envolve o respeito às pessoas, a manutenção da qualidade
de vida da população, a equidade na distribuição de renda e a diminuição das
diferenças sociais, com participação e organização popular. A sustentabilidade
envolve questões relacionadas à manutenção da vida, preocupando-se também com
gerações futuras. Significa dizer que vale a pena priorizar alimentos
cultivados localmente. Significa também não incluir na base de nossas práticas
alimentos produzidos com veneno, que poluem o meio ambiente e impactam
negativamente todas as pessoas que se expõem a eles durante o processo
produtivo: desde os trabalhadores no campo, até os que bebem água contaminada.
Em vez disso, alimentos produzidos por meio da agroecologia, que são
sustentáveis em todos os aspectos, deveriam ser priorizados.
E o que a escola tem a ver com isso?
A escola é o elo entre os conhecimentos familiares,
comunitários e escolares, oriundos de várias áreas do saber, e permite o
desenvolvimento de atitudes e de habilidades necessárias para exercitar a
cidadania. Pode ser entendida como um espaço de articulação entre políticas de
educação e de saúde, propiciando vivências e reflexões dentro de diversas
temáticas como alimentação e cultura, cidadania e fome, violência, sexualidade,
sustentabilidade ambiental, entre outras.
A discussão de sustentabilidade na escola deve
partir da discussão de práticas adequadas e saudáveis, dentre elas, a
alimentação. A alimentação adequada e saudável é reconhecida como a realização
de um direito humano básico que envolve a garantia ao acesso permanente e
regular, de forma socialmente justa, a uma prática alimentar adequada aos aspectos
biológicos e sociais do indivíduo e que deve estar em acordo com as
necessidades alimentares especiais; ser referenciada pela cultura alimentar e
pelas dimensões de gênero, raça e etnia; acessível do ponto de vista físico e
financeiro; harmônica em quantidade e qualidade, atendendo aos princípios da
variedade, do equilíbrio, da moderação e do prazer; e baseada em práticas
produtivas adequadas e sustentáveis.
Veja mais sobre alimentação adequada e saudável
no Guia Alimentar para a População Brasileira.
A escola é considerada um espaço privilegiado para
a promoção da saúde, que desempenha papel fundamental na formação cidadã, de
valores e de hábitos, entre os quais os alimentares. Trata-se de um processo
gradual, que sofre influências sociais, culturais e comportamentais. O ambiente
escolar torna-se, assim, propício para o desenvolvimento de estratégias de
promoção da alimentação adequada e saudável (PAAS) que envolvam toda a
comunidade escolar (professores(as), merendeiros(as), gestores(as),
educandos(as), pais/responsáveis, equipes de saúde), buscando o desenvolvimento
pleno ou integral do educando e estimulando práticas saudáveis que contribuam
para a construção de uma relação saudável do educando com o alimento e com as
práticas envolvidas no processo da alimentação.
Nas escolas do meu
município/Estado há a discussão sobre os modos de produção dos alimentos, o que
temos disponível para consumo e quais os impactos das escolhas alimentares para
o meio ambiente?
Vejamos abaixo algumas reflexões que podem ser
realizadas no espaço escolar.
In natura X Ultraprocessado
Alimentos in natura ou minimamente
processados, em grande variedade e predominantemente de origem vegetal, são a
base para uma alimentação nutricionalmente balanceada, saborosa, culturalmente
apropriada e promotora de um sistema alimentar socialmente e ambientalmente
sustentável. Já os alimentos ultraprocessados devem ser evitados, pois devido a
seus ingredientes – como biscoitos recheados, salgadinhos “de pacote”,
refrigerantes e macarrão “instantâneo” – são nutricionalmente desbalanceados.
Por conta de sua formulação e apresentação, tendem a ser consumidos em excesso
e a substituir alimentos in natura ou minimamente processados. As formas
de produção, distribuição, comercialização e consumo afetam de modo
desfavorável a cultura, a vida social e o meio ambiente.
Veja os vídeos da série do Ministério da Saúde:
A) Alimentação
In natura - Minimamente processados
B) Alimentos
Ultraprocessados
Assista também o Programa da HBO “Greg News” e
divirta-se um pouco com essa reflexão sobre os alimentos ultraprocessados: GREG
NEWS com Gregório Duvivier | ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS https://www.youtube.com/watch?v=CuJjffgXFHM
Na perspectiva da sustentabilidade, a reflexão
sobre este tema deve incluir a problematização de questões referentes, por
exemplo, como os alimentos são produzidos (trabalho infantil ou ilegal; uso
de agrotóxicos, antibióticos, hormônios; contaminação de rios e do solo; entre
outros), distribuídos e consumidos (desigualdade no acesso; perdas; geração de
lixo; desperdício) no modelo de sistema alimentar hoje predominante no Brasil e
no mundo. Um exemplo da interação entre atividades e resultados e de sua
relação com a sustentabilidade pode ser observado em nosso cotidiano: porque
deixamos de comprar determinados alimentos tradicionais, eles foram, aos
poucos, deixando de ser cultivados e comercializados, gerando menos sementes
nativas. Estas, por sua vez, vêm sendo substituídas por outras produzidas
industrialmente. Este processo não valoriza a diversidade de espécies e
empobrece a oferta de alimentos.
Vídeo do FNDE “2ª Jornada de EAN – Comida de
verdade na escola”
Manifesto Comida de verdade – CONSEA
Segundo pesquisas do IBGE, a alimentação do
brasileiro vem acompanhando a tendência mundial de mudança nas práticas
alimentares, ou seja, a diminuição do consumo de alimentos básicos e
tradicionais – no caso do Brasil, arroz, feijão e farinha de mandioca – e o
aumento do consumo de alimentos processados e ultraprocessados – como
biscoitos, refrigerantes embutidos e refeições prontas. Como consequência, os
indicadores demonstram crescimento acelerado do excesso de peso na população
brasileira, nas três últimas décadas, em todas as faixas etárias, revelando que
quase seis em cada dez adultos, um em cada cinco adolescentes e uma em cada
três crianças de 5 a 9 anos apresentam excesso de peso. Vale dizer, ainda, que
o aumento da obesidade não é influenciado apenas pelo hábito individual, mas
também por características dos ambientes alimentares em que as pessoas estão
inseridas (bairro, escola, local de trabalho etc.), isto é, pelo “conjunto dos
meios físico, econômico, político e sociocultural, oportunidades e condições
que influenciam as escolhas alimentares e o estado nutricional das pessoas”.
Obesidade, desnutrição, mudanças climáticas: três
faces de uma mesma questão
Veja material do portal “O Joio e o trigo” https://outraspalavras.net/ojoioeotrigo/2019/08/obesidade-desnutricao-mudancas-climaticas-tres-faces-de-uma-mesma-questao/
Agricultura familiar/ Agroecologia
O que difere agroecologia, orgânico e agroecologia?
Segundo Maria Emilia Pacheco a agroecologia é uma
ciência, um movimento social e também suas práticas. Ela possui dimensões
tecnológicas, sociais, políticas e econômicas. Além de não usar venenos, vai
além: realiza o manejo sustentável, valoriza as sementes tradicionais e cultiva
alimentos em harmonia com a natureza e a cultura local. Já sobre a produção
orgânica é a que não faz uso de agrotóxicos, porém não necessariamente engloba
a diversidade, um princípio chave da agroecologia. A agricultura familiar é o
sujeito dessa história. É por meio dela
que já se desenvolve a agroecologia ou se está buscando uma transição do modelo
de agricultura tradicional para um alternativo.
Assista a entrevista de Maria Emilia Pacheco para o
Canal Futura - Agroecologia e o fornecimento de alimentos
O Programa Nacional de Alimentação Escolar determina
que no mínimo 30% do valor repassado a estados, municípios e Distrito Federal
pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) deve ser utilizado na
compra de gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar e do
empreendedor familiar rural ou de suas organizações, priorizando-se os
assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e as
comunidades quilombolas.
Vídeo do FNDE “Jornada EAN 2019 – Tema 2:
Sustentabilidade na Alimentação Escolar”
A aquisição de gêneros da agricultura familiar é
uma forma potente de fortalecer a economia local e promover o consumo de
alimentos que fazem parte da cultura regional!
Assista ao vídeo “Comida que alimenta!”
Todo o ambiente alimentar tem que ter coerência com
a temática da sustentabilidade!
O cardápio é uma
ferramenta primordial de Educação Alimentar e Nutricional e deve levar em
consideração a produção local, a sazonalidade e conter alimentos variados,
frescos e que respeitem a cultura regional, ser baseado em alimentos in natura
e minimamente processados com uso dos ingredientes culinários para a elaboração
das preparações culinárias e evitando, ao máximo, os alimentos
ultraprocessados!
Além disso, o tipo de alimento incluído na
alimentação pode ter um impacto diferente nas condições climáticas, hídricas e
ecológicas no meio ambiente.
Pensando nisso, foi lançado pela Faculdade de Saúde
Pública da USP o livro “Pegadas dos alimentos e das preparações culinárias
consumidos no Brasil”. O livro relata que no contexto da alimentação, pode-se
estudar o impacto ambiental por unidade de massa do alimento in natura
ou preparado: litros de água por grama de tomate ou litros de água por grama de
molho de tomate. Sendo assim, eles analisaram a produção dos alimentos de
acordo com a pegada de carbono, que mede a quantidade total das emissões de
gases de efeito estufa no ciclo de produção; a pegada hídrica, que mede a quantidade total de água
utilizada direta ou indiretamente durante as fases do ciclo de vida e; a pegada
ecológica que avalia de forma combinada
os impactos antropogênicos que normalmente são avaliados separadamente (emissão
de carbono, mudança no uso da terra, consumo de biodiversidade etc.) e pode ser
aplicada em diferentes escalas, desde produtos até cidades ou países.
Veja o material no link a seguir
Consumo x Consumismo
A humanidade já consome 30% mais recursos naturais
do que a capacidade de renovação da Terra. Se os padrões de consumo e produção
mantiverem-se no atual patamar, em menos de 50 anos serão necessários dois planetas Terra para
atender às nossas necessidades de água, energia e alimentos. Não é preciso dizer que esta
situação certamente ameaçará a vida no planeta, inclusive da própria
humanidade.
Uma das maneiras de se mudar isso é a partir das
escolhas de consumo. Todo consumo causa impacto (positivo ou negativo) na economia, nas
relações sociais, na natureza e em você mesmo. Ao ter consciência desses impactos na hora de
escolher o que comprar, de quem comprar e definir a maneira de usar e como
descartar o que não serve mais, o consumidor pode maximizar os impactos
positivos e minimizar os negativos, desta forma contribuindo com seu poder de
escolha para construir um mundo melhor. Isso é consumo consciente. Em poucas
palavras, é um consumo com consciência de seu impacto e voltado à sustentabilidade.
As nossas escolhas interferem diretamente no
planeta!
Assista ao Vídeo Residual do Ministério da Cultura
Traga essa discussão para
o ambiente escolar com alunxs, responsáveis, professorxs, merendeirxs e
diretorxs!
Em breve disponibilizaremos aqui no blog uma
lista de materiais de apoio a serem trabalhados com a comunidade escolar!
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